TRANSFERÊNCIA DE QUADROS DO GOVERNO PROVINCIAL DE MAPUTO
Algumas decisões do Governo central fragilizam Maria Jonas
Bernardo Álvaro e Constantino Novela
O descontentamento de um grupo de directores provinciais contra a pessoa da governadora da província de Maputo, Maria Jonas, acontece porque segundo apurámos, alguns deles foram comunicados pelos seus ministros da necessidade de cessarem funções.
Na verdade, segundo fontes do Governo Provincial de Maputo, alguns directores provinciais acabam de ser informados da medida, e que dentro de dias vão abandonar os cargos de regresso aos respectivos ministérios onde vão ocupar outros postos.
“A decisão já foi tomada e é irreversível e dentro de dias eles cessam as funções, não por se demitirem em bloco, mas sim porque uns foram chamados a assumirem outras tarefas, e outros vão deixar os cargos por decisão dos ministros, e outros ainda por terem atingido o tempo-limite ao serviço do Aparelho do Estado e querem descansar por vontade própria”, disseram as nossas fontes.
De acordo com as mesmas fontes, após a comunicação os mesmos directores continuam em funções a aguardarem a sua substituição.
“Só que essa comunicação agitou alguns que agora estão a dar a entender que foram corridos ou estão a sair por não concordarem com a governadora”, disseram as mesmas fontes.
“Ninguém se demitiu. A verdade é que alguns directores vão cessar de funções por necessidade dos próprios ministérios. E como eles já foram avisados pelos respectivos ministros da decisão estão a querer deixar a imagem de descontentamento geral, o que não espelha a realidade”, disse uma das fontes também do Governo, acrescentando “que a decisão é infalível e eles sabem que daqui a alguns dias vão embora da província para assumirem outras funções a que forem chamados”.
Governo nega existência de descontentamento
Entretanto, o director provincial da Mulher e Acção Social e igualmente porta-voz do Governo da província de Maputo, Agostinho Pessene, negou numa entrevista que concedeu em exclusivo ao ZAMBEZE as supostas demissões em bloco dos directores provinciais que alegadamente estariam eminentes.
“Estamos todos a trabalhar e alguns colegas estão de férias. Não há nada que parou e desconhecemos qualquer arrogância que tenha sido praticada pela governadora contra algum membro do Governo”, explicou Pessene, admitindo contudo a possibilidade de existir alguém que por motivos pessoais não gosta da governadora.
“Pode haver alguém como pessoa que não goste da governadora e não na relação de chefe para subordinado”, afirmou.
Sobre as especulações que correm na imprensa tendo como base os bastidores do Governo da Província de Maputo, segundo as quais o relacionamento entre a governadora e seus directos colaboradores, no caso os directores provinciais, não é dos melhores, devido alegadamente a arrogância de Maria Jonas, o mesmo porta-voz preferiu dizer que “não sei”.
Vingar e chantagear a governadora para ter medo
Na verdade, segundo outras fontes, algumas pessoas dentro do executivo provincial procuram “desestabilizar” a governadora devido ao braço-de- ferro que ela impõe sobre certos aspectos a que “estavam habituados”.
“Por exemplo, na última presidência aberta do Presidente da República, Armando Guebuza, à província de Maputo, alguns desses responsáveis que se dizem descontentes foram apresentar à governadora um orçamento de mais de 12 milhões de meticais, alegadamente para custear as despesas da visita, incluindo uma recepção que estava orçada em mais de 2 milhões de meticais”, informou-nos uma fonte que pediu discrição, afirmando que “todo o orçamento tinha sido feito a base de esquemas de corrupção que incluiam comissões”.
Trapaças e esquemas de corrupção desmascarados
A mesma fonte adiantou que havia esquemas traçados que no final da visita beneficiariam alguns directores.
“Mas depois da senhora governadora pegar no orçamento para o analisar fez cortes que situaram o orçamento para a visita em quase 2 milhões de meticais. A visita correu bem e as despesas que estavam previstas, como recepção, aluguer em rent-a-car foram cobertas, o que significa que os 12 milhões se destinavam a alguns bolsos”, disse a fonte.
A mesma fonte do Governo provincial adiantou que “a partir daí começou a guerra e o alegado descontentamento contra a governadora, acusando-a de arrogante por ter inviabilizado os seus planos”.
Intrigas pessoais
Na entrevista à nossa reportagem o porta-voz Agostinho Pessene reconheceu que como qualquer outra instituição ou grupo constituído por várias pessoas não faltam divergências de opinião e pontos de vista, sobretudo entre um chefe e seus subalternos.
“O Governo da Província de Maputo também não pode fugir à regra”, disse Pessene.
Na verdade, como Pessene nos fez saber, as divergências de opinião e inimizades no Governo da Província de Maputo, principalmente entre os directores provinciais e a governadora, podem existir no circuito pessoal e não de governadora para directores.
“Pode haver divergências e inimizades fora das funções que cada um ocupa. Cada um tem o que deve fazer dentro daquilo que está no plano do seu ministério e do Governo da província”, disse o director provincial da Mulher e Acção Social.
“Pode ser que exista um relacionamento turvo de pessoa para pessoa, mas de chefe para subordinado eu não vejo nenhum problema, porém, sabe-se que no ambiente de trabalho em equipa há sempre diferenças de opinião mas que são sanadas, dado que nós temos um espaço para discutir os nossos problemas”, admitiu Pessene, acrescentando que “qualquer desavença ou divergência de opinião é discutida nas nossas sessões”.
Ele admitiu também ser normal uma pessoa gostar ou não do seu chefe, afirmando contudo que isso não tem importância porque as pessoas estão a trabalhar e cada um conhece o seu lugar.
Serve de referência dizer que o facto de algumas pessoas não gostarem do seu chefe contribui sobremaneira para que o relacionamento profissional seja também turvo, tornando difícil separar o ambiente de trabalho e as inimizades pessoais.
Mesmo admitindo a possibilidade de alguns não gostarem da governadora, Pessene disse que o trabalho está a andar, argumentando que no dia da tomada de posse cada um fez o juramento de bem servir.
“Estamos todos a trabalhar num bom ambiente. Estamos todos, incluindo a governadora, unidos, apesar das dificuldades materiais e financeiras”, disse Pessane.
De dinâmicos e fofoqueiros
Informações dos bastidores do Governo da Província de Maputo dão conta da existência de duas alas, uma daqueles que querem ganhar a confiança da governadora mostrando certo dinamismo e outra de “autênticos fofoqueiros, opositores das ideias e consequentemente rebeldes e chantagistas”.
É exactamente nesse contexto que correu na semana passada uma informação segundo a qual os directores provinciais tencionam se demitirem em bloco, o que o porta-voz do Governo da Província de Maputo desmente afirmando “não haver um movimento nesse sentido por parte dos directores provinciais”.
“Não faço ideia de ter havido um movimento que indicasse ou indica a intenção de os directores provinciais se demitirem em massa devido a uma alegada arrogância da governadora, apesar de eu ser novo aqui no Governo”, disse o porta-voz, afirmando que “a governadora está a tentar organizar uma equipa coesa de modo a tornar a província de Maputo exemplo de boa governação, objectivo de que todos nós comungamos sem nenhum problema”.
Entretanto, ao que sabemos, as agitações pessoais e que acontecem geralmente fora do ambiente de trabalho são depois transportadas para as sessões do Governo e debatidas como sendo informações sérias, o que gera confusão.
Sobre a alegada nomeação do irmão da governadora para director das Actividades Económicas do distrito da Moamba, a nossa reportagem apurou que o mesmo é funcionário do Ministério da Agricultura há bastante tempo, tem formação superior e trabalhava na província do Niassa como director distrital, tendo vindo a Maputo na sequência da transferência da sua esposa para o Governo da Província de Maputo.
“A sua colocação num dos distritos da província de Maputo tem a ver com o Ministério da Agricultura onde submeteu o seu pedido de transferência e não com a governadora da província”, disse-nos uma das fontes, classificando as informações como sendo “mentiras grosseiras e sem fundamento e que visam desgastar a imagem da governadora”.
No entanto, informações de fontes que solicitaram anonimato indicam que a directora provincial da Indústria e Comércio de Maputo já pediu para ir à reforma, não por descontentamento mas por ter atingido o tempo-limite de trabalho como funcionária do Estado.